Marcelle Souza
Do UOL, em São Paulo
17/12/201305h00
A violência entrou de vez no
currículo escolar. Só que, em vez de uma batalha no campo das ideias, alunos,
professores, diretores e funcionários precisam conviver com agressões, ameaças
e abusos. Para Miriam Abramovay, coordenadora da área de Juventude e Políticas
Públicas da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais e coordenadora de
pesquisas da Unesco (Organização das Nações Unidas para a educação, a ciência e
a cultura), os conflitos são resultado de relações sociais ruins e da falta de
diálogo.
Pesquisadora do tema há mais de dez
anos, Miriam defende a criação de políticas públicas de prevenção da violência
escolar, diagnóstico dos problemas e a formação específica de professores.
"Um bom professor é o que ensina bem a disciplina, mas também que sabe ser
amigo, que sabe entender o que é ser jovem". Leia a seguir a entrevista:
Aumentaram os
casos de violência na escola?
Eu acho que não dá para dizer que aumentou ou não
a violência no
ensino. Não existe nenhuma pesquisa que abarque todo o Brasil e que faça uma
avaliação do que aconteceu nesses últimos dez anos sobre a violência nas
escolas. Se você pegar os casos de violência em geral ou de mortalidade dos
jovens, a situação é cada ano pior. Então, é óbvio que por um lado a escola
recebe essa influência, mas por outro ela também produz
violência, que são muito específicas do âmbito escolar.
A ciberviolência
e a divulgação de vídeos de violência na internet aumentaram a sensação de
violência?
Eu acho que é uma questão muito importante e a
escola não tem as ferramentas mínimas para poder prevenir esse tipo de
violência. A escola é muito centrada em si mesma, no que pensam os adultos.
Em segundo lugar, ela não sabe o que acontece na vida desse jovem. Colocar uma coisa
na internet é uma forma de exibicionismo e nós vivemos numa sociedade
do espetáculo. Isso tem um valor muito grande, principalmente para o jovem.
O que motivam os
atos de violência na escola hoje em dia?
Brigar, eles sempre brigaram, isso sempre
aconteceu. Mas eu acho que estamos vivendo
um fenômeno da exacerbação da masculinidade e da cultura da violência.
Aparece aquele que é mais violento, que sabe brigar melhor. Eu digo
masculinidade, mas é para garotos e garotas. Aí também entra o uso das armas,
porque a arma é símbolo de
força e de poder.
Qual é o
principal motivo do conflito entre professores, alunos e diretores?
Eu acho que as relações sociais -- aluno-aluno,
aluno-professor e professor-diretor-- estão muito ruins. Ainda acho que as
mais complicadas são as relações
com os adultos. Isso porque a escola é muito centrada nela mesma e muito pouco
do que se propõe é dialogar com os jovens. Eu acho que isso cria um clima
muito ruim.
Nós estamos fazendo uma pesquisa e percebemos que
o professor que os alunos mais gostam coincide com a matéria que eles mais
gostam. Ou seja, a relação entre o
professor e os jovens ainda é muito importante. Um bom
professor é o que ensina bem a disciplina, mas também o que sabe ser amigo,
que sabe entender o que é ser jovem.
Por que ocorrem
casos de abuso sexual dentro da escola?
A escola não é uma torre de marfim, ela também
reproduz as próprias loucuras da nossa sociedade. Eu acho que tem
ainda o abuso dos professores e das professoras relacionado à fragilidade do
que é ser adolescente. Nós temos uma postura de negação a tudo o que é jovem,
no sentido de não ser positivo. Por outro lado, existe admiração, porque são
bonitos e estão vivendo coisas que os adultos já viveram, o que causa muito
fascínio em muitos professores também. Acho que é uma falta de limite desses
professores e professoras e uma falta de autoridade. A escola tinha que ser
um local de proteção e não de reprodução dessa violência.
Você pesquisa a
violência escolar desde o início dos anos 2000. Algo mudou nos últimos dez
anos?
Eu acho que muito pouco, infelizmente, porque os
tipos de comportamento vêm se repetindo. Nós não temos políticas públicas
efetivas, diagnósticos importantes sobre esse tema. Nós não temos
formação de professores, o que é fundamental, porque eles não tiveram
isso na sua formação.
Qual é o papel da
escola no combate ao bullying?
Eu acho que a escola tem que
prestar atenção no que está acontecendo com ela: como se dão as relações entre os
alunos, as relações com os professores, em todos os fenômenos da violência,
que são ameaças, a entrada de armas na escola, a homofobia, a violência de
gênero... A escola tem que se dar conta disso.
Como combater a
violência escolar em comunidades em que a violência já faz parte do
cotidiano?
Uma escola que está num local de violência não
obrigatoriamente é violenta. A escola tem uma violência de fora para dentro,
mas tem a violência que ela produz. Então, você pode ter um lugar supertranquilo
em que a escola é superviolenta. E vice-versa. A escola tem as suas próprias
características, não é uma consequência direta do que acontece fora dela.
Não obrigatoriamente a comunidade tem
interferência nas relações entre os alunos, no racismo, na homofobia, em como
os professores tratam os alunos, porque isso pode ser violência também. Se
você tem uma concepção de violência como só a violência dura, que é a entrada de
tráfico e de armas nas escolas, então você tem razão, quanto mais
a comunidade é violenta mais a escola é violenta. Mas se você tem uma
concepção de que violência é uma coisa mais ampla, que existe uma violência
simbólica, não obrigatoriamente a comunidade vai fazer com que as relações
sociais sejam piores.
Dependendo dos professores, dos alunos, da
relação com a família, a escola pode ser um lugar de proteção, independente
do bairro ou da comunidade ser violenta ou não.
Há uma relação
entre a participação dos pais e a violência escolar?
Nós fizemos uma pesquisa há muito anos que
mostrava que quanto mais havia a participação dos pais na escola mais a
escola poderia se tornar uma escola protetora. Ou seja, abrir as portas para
os pais, os pais buscarem entender o que está acontecendo com os filhos,
pedirem ajuda, [fazer com] que essa relação
escola e família não seja de competição, é fundamental
para o clima escolar.
Em que momento a
polícia pode entrar na escola?
Está acontecendo um fenômeno hoje que é a judicialização da
educação. Quer dizer, a escola joga para a Justiça seus principais problemas.
A polícia tem que entrar na escola quando a violência é dura, quando existe
droga e armas dentro da escola. Senão, não existe nenhum sentido de a polícia
estar dentro da escola. Mas está acontecendo o contrário, quer dizer, o
conselho tutelar a toda hora é chamado por coisas mais banais que acontecem.
O que a escola está dizendo é "eu não tenho
autoridade de resolver os meus problemas e vou chamar a polícia para isso".
Qual é o papel do
Estado na redução da violência nas escolas?
Eu acho que nós temos que ter uma política pública
sobre esse tema, que abarque diagnósticos, formação de professores. Não adianta só
ter pequenos programas, nós temos que ter políticas para a gente saber o que
está acontecendo, depois pensar muito na formação de professores, para eles
saberem o que fazer.
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VIOLÊNCIA ESCOLAR EM 2013
Professor é afastado após acariciar aluna em escola estadual de SP. Criança é mordida dezenas de vezes em creche particular de MG. Na China, estudante mata professor após ter seu celular confiscado. Em Paulínia, alunas brigam durante aula e professor assiste a cena. Polícia apreende nove jovens suspeitos de incendiar escola no RS. Aluna de 16 anos é retirada de sala de aula e morta dentro de escola no RN.
· Aluno agride com vassoura docente que
proibiu acesso ao Facebook
TRIO:
Aluna: Aline Aparecida Ribeiro da Silva – Matr.:14112080328 Aluna: Michelly de Souza Vanzan de Almeida - Matrí.: 14112080350 Aluna: Renata do Nascimento Oliveira - Matrí.: 14112080321 |
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